sexta-feira, dezembro 30, 2011

HOLOCAUSTO!


Na operação Natal da GNR que durou apenas 4 dias morreram 11 pessoas e ficaram 24 feridas com gravidade, em 604 acidentes!


Isto significará, no final dos 30 dias seguintes, pelo menos 13 mortos. Estes dados são apenas os fornecidos pela GNR. Não estão incluídos nestas estatísticas os restantes dados fora desta operação especial da GNR. Sempre que presto alguma atenção às estatísticas dos acidentes rodoviários e respectivas consequências, sobretudo em perda de vidas humanas e danos corporais, não consigo deixar de sentir um tremor a percorrer-me a “espinha”.


Dependendo da fonte e do método aplicado, falamos numa média de entre 16 a 18 mortos por semana (a 30 dias), nas estradas portuguesas. E pasme-se: a maior parte destas vítimas resulta de acidentes durante o dia, normalmente a horas de pouco tráfego, com piso seco e por despiste. É verdade que o número de acidentes, de mortos e de feridos tem vindo a diminuir ao longo da última década. Em 2010 o número de vítimas mortais foi de cerca 840 (a 30 dias), contra cerca de 1860 em 2000. Também o número de feridos graves e ligeiros diminuiu (cerca de 22%) mas não o bastante para que toda esta situação não se assemelhe a uma grave catástrofe natural ou nuclear. Em 2011 o panorama não será muito melhor, quando o balanço for efectuado. É nas Estradas Nacionais e nos arruamentos urbanos que se concentram o maior número de mortos e feridos graves. Apesar de muitos erros técnicos na concepção das nossas estradas e de concentração de tráfego nas ruas das nossas cidades, nada justifica a dimensão deste flagelo a não ser a indisciplina, ignorância e negligência de muitos condutores e alguns peões. Se anulássemos o efeito positivo que os dispositivos de segurança activa e passiva que actualmente equipam quase todos os veículos – como o ABS, ESP, DTC e PSM, os airbags, os sistemas de bloqueio dos cintos, os Isofix, etc. – bem como as melhorias introduzidas nas vias rodoviárias, poderíamos talvez concluir que pouco foi de facto concretizado do lado do condutores para que este “holocausto” quase desapareça. Ainda assim, é nas auto-estradas, muitas delas com desenho técnico deficiente e em alguns casos com pisos de “cross”, que o menor número de mortos e feridos graves acontece, proporcionalmente falando.


Recorde-se que, em geral e em média, em cada 100 feridos graves, seis acabam por falecer em consequência do acidente. Mas as estatísticas também nos revelam que quando as sanções pecuniárias e acessórias são agravadas e se tornam obrigatórios determinados comportamentos mais seguros (i.e. 50 km/h nas localidades, uso obrigatório de cinto de segurança nas cidades, etc.) a sinistralidade mortal reduz-se de forma notória. Sinceramente, creio que a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, bem como as divisões de trânsito da GNR (futura BT novamente) e PSP têm dado o seu melhor. Mas também creio que é necessário fazer muito mais. Concretizar! É necessário ser muito incisivo na educação colectiva dos condutores e proporcionalmente punitivo. Aqui diria mesmo, à Alemã, sem contemplações. Se por efeitos das emissões de gases e partículas é conveniente manter a velocidade máxima nas AE em 120 km/h, para efeitos da segurança rodoviária, parecia-me mais racional permitir um pouco mais (140 km/h) e ser absolutamente severo nos excessos. Nas localidades, a violação de sinais de trânsito, sobretudo dos semáforos, deveria também ser duramente castigada. As lombas sonoras em zonas de travagem, que apenas servem para derrapagens em piso molhado, deveriam ser substituídas por piso antiderrapante adequado, a sinalização de cruzamentos e de entradas de vias nas EN muito mais visíveis, etc., etc.


Muito disto já consta no papel, mas muito falta concretizar. Num ano de difícil orçamento, a questão dever-se-ia então colocar: Qual seria o seu custo-benefício, para o País, poupando estas vidas, dias de paralisação dos feridos graves e ligeiros, helicópteros e ambulâncias do INEM e despesas hospitalares? E insisto, qual deveria ser o papel das seguradoras neste plano? Se o país é o principal interessado em termos macro, afinal não são elas também umas das principais interessadas em termos micro?


Mário Lopes, Membro do Júri e Comissão de Honra do Troféu Blue Auto (mariolopes.automotor@gmail.com)


http://www.automotor.xl.pt/Not%C3%ADcias/DetalheNoticia/tabid/118/itemId/10205/Default.aspx


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