Faço parte de uma empresa portuguesa, com capitais portugueses, que emprega cerca de 80 pessoas. Estamos no ramo do comércio, com cerca de 20 lojas distribuídas em vários distritos do país. É uma empresa jovem e que muito tem investido nestes últimos anos no nosso país. Facturamos alguns milhões de euros por ano graças ao nosso esforço constante, ao nosso empenho diário, à nossa força do trabalho.
Apesar da crise, das dificuldades que temos como tantas outras empresas, temos conseguido sobreviver, temos conseguido resistir a uma série de adversidades graças à perseverança que nos caracteriza. Não obstante todos estarmos a atravessar uma fase difícil, felizmente na nossa empresa temos conseguido manter os postos de trabalho e temos vindo a cumprir com as nossas responsabilidades para com o Estado e com os nossos parceiros comerciais. É uma tarefa complicada quando se trabalha numa base diária… hoje em dia é quase impossível fazer grandes previsões, não conseguimos ter grandes expectativas… temos de lutar dia após dia para continuar a levar o barco a bom porto.
Infelizmente, nos últimos 3 anos, temos vindo a ser assaltados em várias lojas, já foram cerca de uma dezena de assaltos em lojas nos distritos da Guarda, Viseu e Porto. Na passada sexta-feira (21 de Agosto de 2009), uma das nossas lojas foi assaltada pela segunda vez.
Dos vários assaltos derivaram milhares de euros de prejuízo: mercadoria roubada, expositores danificados, vidros quebrados, paredes destruídas… Enfim, de tudo um pouco… Como é costume, todos nos perguntam na hora da desgraça se temos seguro. É um facto que possuímos seguro contra roubo, no entanto, nunca o seguro cobre todas as despesas, pois sabemos como são as imensas cláusulas dos contratos das companhias de seguro! Quanto menos indemnizarem melhor… Pergunto-me se um dia, as companhias de seguro não passarão a recusar fazer-nos seguro pois são tantos os assaltos que começa a perder interesse ter um cliente como nós! Esperemos que esse dia demore a chegar. Como na generalidade dos comerciantes, o nosso seguro não cobre todos os prejuízos materiais: não paga o prejuízo de uma loja fechada para inventário, o tempo que temos de dedicar a repor a normalidade, a prestar declarações, a perder tempo em julgamentos e muito menos assegura os danos emocionais. Imaginam o que é chegarmos a uma loja, que é fruto do nosso esforço e sacrifício, e vê-la destruída, com as montras estilhaçadas, sem maior parte dos nossos produtos!? Para quem se dedica e luta diariamente por bons resultados é uma dor na alma que não vos consigo descrever.
Dos vários assaltos de que fomos alvo, já nos deparámos com as mais diversas situações: ladrões que foram apanhados em flagrante delito, ladrões que fugiram e ninguém os consegue identificar, ladrões que assaltam lojas sem medo e de cara destapada, ladrões que repetem a façanha…
Destes acontecimentos, tenho de referir que as autoridades (PSP/GNR) têm sido incansáveis no seu trabalho e muito nos têm tentado ajudar. Todavia, gostava de perceber o que motiva estes homens e mulheres que arriscam a sua vida para nos proteger? Pois, na hora de verem o seu trabalho reconhecido com a punição dos bandidos e malfeitores, estes são ouvidos (curioso este termo!) e de seguida, imaginem, são postos em liberdade!!! Presumo que seja uma frustração para estes profissionais… dedicarem o seu tempo e o seu esforço para capturar os bandidos e depois, tudo vai por água abaixo quando eles são novamente libertados. Num dos assaltos de que fomos alvo, foi capturado um indivíduo em flagrante delito. Foi detido pelas 6h da manhã, foi presente a juiz à tarde, e não tinham passadas 12 horas já se encontrava em liberdade. Para os polícias que o capturaram, imagino que não possa haver maior motivação para prosseguir no alcance da missão a que se propuseram e para a qual até fizeram um juramento público de sacrificar a própria vida na defesa da Pátria! Credo!
O sistema judicial português é de facto atractivo para os ladrões… para quem rouba, estraga, maltrata… nada como estar em liberdade! Será até um bom postal para os ladrões de outros países… quem rouba em Portugal raramente cumpre pena, raramente é condenado, raramente lhes acontece algo de mal… por isso… Venham todos!
Parece-me que a justiça portuguesa funciona cada vez mais em lados opostos ao que seria de se esperar. Enquanto empresa que somos, trabalhamos para que não haja erros ou para que estes sejam minimizados de forma que ninguém seja prejudicado, mas nem sempre corre tudo bem. Aponto-vos como exemplo uma falha que aconteceu numa das nossas lojas: um dos nossos colaboradores, após ter colocado alguns produtos novos na montra não colocou os preços dos mesmos. É grave, foi um grande lapso da nossa parte, passado pouco tempo (pouquíssimo) de se ter cometido esta omissão, recebemos uma visita duma entidade fiscalizadora que nos levantou um auto em que resultou uma coima de 2500€ por tal falha. Como pessoas sérias que somos, apresentámos os nossos motivos, as nossas desculpas e lamentámos o sucedido. Mas os 2500€ de multa tiveram que ser pagos na mesma. E agora pergunto eu, e ao ladrão que partiu a montra, estragou a loja e produtos, nada lhe acontece? Certamente que ele nem quer ver o preço que está na montra. Coitadinho, pode ficar traumatizado, o melhor é manda-lo para casa. Isto é preciso cá ter uma sorte… Afinal, parece que o crime compensa.
Conto-vos apenas mais uma história, um pouco caricata: estávamos cheios de força, cheios de vontade de continuarmos a investir pelo que resolvemos abrir mais uma loja. Tratámos de toda a burocracia, pagámos todas as taxas e licenças, mas voltámos a cometer um lapso! Colocámos um reclame na nossa loja que não cumpriu com todas as exigências camarárias (daquele município refira-se). Quando nos foi comunicado esse facto, fomos informados que teríamos de pagar uma coima pelo sucedido. Desta vez, parece-me que foram perto de 1000€ e mais uma vez, como somos sérios, lá pagámos a multa. E agora pergunto eu, de quanto é a multa que o ladrão vai pagar por danificar o reclame quando foi lá assaltar a loja? Afinal de contas, será que o crime compensa?!
Acredito que podia escrever um livro com tantas histórias tristes que já vivi e assisti no mundo do comércio, mas julgo não ter veia de escritor pelo que decidi deixar-vos apenas uma ideia do meu (res)sentimento…
Segundo me lembro, um dos pilares da Constituição Portuguesa é o Princípio da Igualdade: “Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.”
Julgo que estamos a falhar, pois infelizmente não somos tratados todos de igual forma perante a lei: perdoam-se os ladrões e encarceram-se os trabalhadores…
Aos governantes deste país, peço-vos ajuda! Deixem de dificultar a vida às empresas, criem processos mais transparentes, menos burocráticos, e ajudem as nossas autoridades a serem respeitadas e a zelarem pela nossa segurança. Que sejam criadas e aplicadas leis justas e adaptadas aos nosso tempo pois só assim conseguiremos ter um Portugal de que todos nos orgulhamos.
Um português cansado de pouca justiça,
Pedro Figueiredo
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